Carta de um camponês a um doutor




Senhor doutor, sou homi du Campo e tenho poco istudo, mal sei faze meu nome direito. Mas sou trabaiado. Trabaio de sol a sol pra colocar comida na mesa minha famia.

Nunca fui preso por fazer bobagi. Nunca usei droga também. Meu pai só me insino coisa boa, de omi correto. Até porque se fizesse bobagi, tomava uma taca misera pra aprender a não fazer di novo.

Digo isso porque no final de semana passada, doto, fui toma com uns amigos uma caninha na  feira da cidade, coisa que acho que tenho direito, e lá peguei porrada de uns puliça. Coisa que num gostei muito.

O motivo disso não achei justo. Foi assim, tava eu tomando minha birita, quando o puliça chego. E disse que ia me revista. Disse que ele podia fazer o que achasse certo, pois não sou contra o serviço de puliça. Acho que ele não gostou de como falei.

Foi aí que ele acho a faca que uso no serviço, doto, em minha cintura. Ela ainda estava na bainha.

E sem avisar meteu a mão no meu lombo, que doeu muito. Vi estrelas.
Dei dois passos pra por causo do susto, mas não fui mas longe que isso, pois o outro puliça me deu uma rasteira e eu caí de costa no chão. Fiquei sem ar por causa da queda. Foi um tombo feio.

Ainda tomei uns chutes e xingamentos de bandido e de safado.

Nunca tinha apanhado de omi feito, doto, e jamais iria revidar a um puliça, até porque podiam me prender. E a coisa ia ficar pior, além de apanhar, tambem ia preso por nada. Pois sequer tive tempo de explicar o motivo de estar com a faca. O motivo é que uso para o serviço no mato e para coisas do dia a dia, como por exemplo, descascar laranjas.

Sr dotor, foi a pior coisa que me aconteceu, fico até com vergonha de falar sobre isso.

Peço desculpa por lhe incomodar com isso e lhe agradeço pela atenção.




Raimundo Nonato de Souza.

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