Visita Soturna - um velho amigo retorna


Era uma noite de outono, e uma cidadezinha que fica próxima à capital do Estado. Lugar no qual a maioria da população tinha idade superior a 40 anos. E onde os jovens gostavam de ir à capital do Estado atrás de trabalho, estudo, saúde e até mesmo de diversão - na maioria das vezes. Devido às diversas casas noturnas que lá existiam, a cidade jamais dormia, sempre com suas luzes acesas. E por isso ela era conhecida como Insônia.

Já a cidade de ociosa, ao contrário, era pequena e calma e se localizava às margens de um vasto rio, em cujas margens construíram uma praça, na qual à noite reuniam-se inúmeras pessoas. Iam lá para conversar, jogar dominó, baralho e contar causos do dia a dia.

Certo dia, Dico, um dos poucos jovens que teimavam em permanecer em Ociosa, estava sentado em um banco dessa praça, perto de uma grande ameixeira. Admirava o rio, o qual ele achava bonito e lhe transmitia paz.

Dico pensava sobre a vida, quando ouviu um roncar como se houvesse alguém ao seu lado dormindo. Olhou para os lados, mas não viu ninguém - a não ser os idoso em uma rodada de dominó.

Então lhe cai a ficha.

- Puta merda, não jantei ainda - Dico fala para si mesmo.

Ele levanta-se e vai à Banquinha da Senhora Marta (é o que está escrito na lateral do carrinho), a qual lhe conhecia a bastante tempo.

- Oi, Dona Marta - ele saúda a vendedora.

Ela era uma mulher corpulenta, negra e de cabelos brancos, que vendia vários tipos de comida naquele lugar.

- Oi, Dico, meu filho. Boa noite. Como você está? 

- Estou muito bem. Mas e a senhora, como vai indo?

- Estou viva, meu querido - essa foi a resposta ao "como vai indo" de Dico. - O que você vai querer hoje?

- Quero um churrasco completo com tudo dentro. E um copão de suco de cupu.

É pra já, Dico.

Ele pegou a comida feita por Dona Marta, pagou e em seguida voltou ao banco onde estava. E em questão de segundos devorou tudo, limpou o prato. E disse:

- Bem... já dei de comer ao mostro enclausurado dentro do meu estômago.

E continuou a contemplar a paisagem local. As horas se passaram. Era um lugar aconchegante, afinal de contas. Aí ele observa que não estava sozinho no banco da praça. Olha para os dois lados, direita e esquerda, e observa que à sua direita há um senhor de chapéu e óculos escuros. O homem está muito bem vestido. Ele está com as duas mãos apoiadas sobre uma bengala escura, cuja parte superior possui um dourado que  reluz à luz das estrelas. Também notou que a bengala estava fincada no chão de concreto.

A figura, com uma voz muito grave, diz:

- Olá, meu amigo. Não sabe a quanto tempo estou lhe procurando.

A reação de Dico foi de puro espanto. De onde diabos aquele homem medonho havia surgido afinal de contas. Cacete!

- O que?! Quem é o senhor? E por que estava me procurando. Não devo a ninguém e não tenho filhos espalhados pelo mundo pra virem atrás de mim. E você, vestido assim, parece um agente funerário.

A figura vira-se para Dico e diz:

- Você é muito engraçado. E, apesar do passar dos séculos, você não mudou nada.

Nesse momento dico olha o rosto do homem e vê que seus olhos estão emitindo um brilho vermelho incandescente.

- Me responda uma coisa, Dico: você ainda tem aqueles sonhos perturbadores que te assombram à noite, os quais você nunca os entende.

Dico ficou surpreso porque ele nunca havia falado sobre isso para ninguém. Não que lembrasse de ter contado.

Dico se levantou o mais rápido que pode e saiu correndo rumo à sua casa, que ficava a alguns metros dali. Algumas pessoas que estavam nas frentes de suas casas viram ele correndo. Uma delas chegou a dizer:

- Ei, Dico! Que pressa é essa?

Outra falou:

- Isso é bem vontade de cagar.

Mas dico não deu muita atenção para tais comentários. E logo chegou à sua casa. Ela era simples, feita de taipa, telhado ao estilo chaminé, quatro compartimentos - sala, quarto, cozinha e banheiro.

Entrou, fechou a porta atrás de si, e passou a tranca de madeira para ter certeza de que realmente estava seguro. Tranca essa que normalmente era pesada, mas que naquele momento de medo, parecia ser feita de isopor de tão leve que estava.

Correu para seu quarto e pegou uma faca que ali havia. Estando naquele ambiente escuro, ficou calado como um caçador fica á espera de sua presa. Passou-se alguns minutos, quando ele ouviu a chuva começar a cair forte lá fora.

Ele pensou:

- Quem era aquele senhor que parecia me conhecer tão bem?

De repente, um forte clarão de um relâmpago. Dico vê uma figura em pé na porta do seu quarto com os olhos em chamas.

A coisa fala com ele:

- Tss, tss, tss - Sibila a criatura. - Dico. Dico. Você pode até tentar se esconder de mim, mas sempre vou encontrá-lo.

Dico se apavora com o que estava acontecendo. E quando se dá conta, percebeu avançou na direção da coisa e cravou a faca no peito do homem.

O homem pareceu não se importar com o ferimento, tendo desferido um tapa com a costa da mão no rosto de Dico. A violência foi tamanha que arremessou Dico na parede, como naqueles filmes de ação Hollywoodianos. Dico sente que foi gravemente lesionado, pois sua boca ficou ensanguentada.

Ficou ali por um tempo, pensado no que acabara de acontecer.

A criatura fala:

- Dico, você me decepciona. Logo você que eu tanto esperava alguma coisa mais.

Com isso o homem retira a faca, olha para ela em suas mãos e fala:

- É... pelo menos vejo que você ainda continua com ela. Mas isso não é o suficiente para me deter - diz a criatura. E ri alto - Ha, ha, ha!!!

A criatura se aproxima de Dico e lentamente toca em seu ombro. Ele sente uma coisa estranha, algo jamais sentido por ele antes. Foi como se tivesse morrido e sua alma estivesse sido tragada por um grande aspirador de pó, mas que, ao invés de pó, ele aspirasse almas, e era a de Dico que ele estava tragando naquele momento.

E foi num piscar de olhos que ambos estavam em outro lugar. Haviam sido teletransportados para outro lugar. Talvez até outro mundo. Ele não sabia dizer.


..........

Eles estavam em outro lugar à beira de um penhasco.
Dico ficou surpreso e espantado por estar naquele lugar. Ele observou que ao redor existia uma floresta.

Dico tira a mão daquela criatura de seu ombro e corre o mais rápido que pôde. Vira-se para ver se o homem estranho ainda o seguia.

Mas ele estava de pé, com as mãos uma por cima da outra, apoiada sobre sua bengala. Ele o fitava Dico, meneando a cabeça de um lado para outro.

Dico volta a sua atenção para frente com medo, imaginado se aquela situação era mesmo real. Ele vê na extremidade do planalto, onde se encontrava uma passagem. Quando chega à passagem, ele  pára para retomar o folego, virasse para olhar se o homem ainda estava lá no mesmo lugar. Mas viu que continuava na mesma postura, o observando. Só que ele estava a cerca de uns 200 metros de distância dele.

- Ufa! Quem será que é esse cara? Que diabos ele quer? Bom... pensarei nisso mais tarde.

Começou a entrar na passagem estreita, que só seria possível se fosse de lado. Então ele pensa:

- Cara, que lugar apertado! Parece que estou sendo "parido" por essas rochas.

Era tão apertado que ele não podia respirar, pois suas costas e peito estavam quase se unindo um ao outro, devido o local onde se encontrava. Passou-se alguns minutos, ele chega na outra extremidade da fenda.

Ao sair, ele acaba se cortando no rosto em uma pedra afiada, o que causou um corte horizontal, que ia da altura do nariz até próximo a orelha direita.

- Merda! Que porra! Essas pedras são afiadas como lâminas.

Nisso ele observa que a rocha que o havia cortado estava suja com seu sangue. Mas em questão de segundos, ele foi absorvido como se a rocha o houvesse sugado, deixando limpo o local.

Logo Dico se assusta ainda mais com ele. Também percebe que não cortou só o rosto, e sim todo o corpo.

- Merda, merda!!! Eu estou todo cortado. Parece que estava brigando com uma navalha. Mas não posso ficar aqui parado, esperando aquela coisa. Tenho que ficar mais longe daquele cara.

Dico avista uma trilha com declive. E corre para lá. Desce correndo, tentando não cair. Mas não esperava que bem no meio dela houvesse uma parte com muito cascalho. Ele cai e sai rebolando (nota do editor: não vou tirar esta parte, ficou engraçada demais. Foi mal, Murph. (agora no zap com o Murph: "Esse viadinho só queria uma desculpa para sair rebolando") ).

Só parou de rebolar (nota do editor: aqui eu adicionei o verbo rebolar outra vez. Proposital, O.K?) quando bateu em uma árvore no inicio da trilha. Tentou se levantar, mas não conseguiu, devido à queda e o forte baque na árvore. Se esforça pra se sentar e ficar encostado na árvore. E por estar com a vista turva, ele aguardou alguns minutos. E olha para a trilha de onde ele acabara de se rebolado. E diz para si mesmo:

- Caramba, mano, acho que corri uns 50 metros e rolei outros 50. Estou todo dolorido.

.........


Abriu os olhos e percebeu que estavam em um vilarejo. Notou também que ali haviam muitas árvores. Altas e grossas. Tão grossas que seria possível até  construir casas dentro delas.

Dico mesmo receoso com a criatura não se conteve e perguntou.

- Onde nos estamos?

A criatura responde.

- A pergunta correta, caro amigo, não é "onde", e sim é "quando".

Dico não entendeu o que ele quis dizer, mas continuou.

- Ei! Que lugar é esse? E essas estátuas, o que são? Por que estou aqui?
E quem é você realmente?

- Psiii. Calma, meu. Você logo terá suas respostas.

Eles viram uma grande mesa feita de pedra. Mas não havia cadeiras para se sentar.

Dico observou que, no meio da mesa, havia uma esfera encoberta por um pano preto, o qual logo foi retirado por aquele que o havia levado àquele lugar.

E num estalar de dedos, Dico estava em pé sem as correntes e sem a bola de metal que estava presa em seu tornozelo. Do outro lado o homem com as mãos sobre a mesa olhava fixo pra ele.

- Dico, agora vou responder suas perguntas. Faça-as.

Dico então começa:

- Quem é você?
- Sou um mago.
- "Mago"? E isso existe mesmo?
- Sim.
- Qual o seu nome ?
- Por que vocês humanos têm que nomear tudo ao seu redor? Nunca vou entender isso.

Dico responde:
- Eu sei, mas o seu nome...
- Há muito tempo não o pronuncio, mas vou lhe dizer, é Bugu.
- Tá certo. E que lugar é esse?
- Aqui é a caverna dos portais.
- Humm.
- E essas estátuas são demônios, mais precisamente 7 deles.
- E o que eu tenho a ver com isto?

Bugu responde:
- Você está aqui para aprisionar novamente os demônios que quase extinguiram todos os reinos.



(conteúdo abaixo adiciona em 07 de 2022)

(nota do editor: procuro me envolver o mínimo possível na escrita original do autor, mas faço as correções necessárias e pequenas adições, como conectivos e palavras extras, para melhorar o entendimento e um melhorar fluir da história)



E naquele momento levantou-se atordoado e percebeu que não estava mais em seu mundo. Estava num vasto salão, que num passado distante deveria ter sido muito bonito, mas agora as pessoas que gostam de fazer filmes de terror iriam amar aquele ambiente nostálgico e de certa forma perturbador.

À sua frente, a uns 30 metros, havia um trono feito em rocha escura, no qual estava sentado uma figura que o observa com olhos chamejantes.

Com muita esforço, ele se levanta sem desviar a visão da criatura.

E, num estalar de dedos, a criatura magicamente levou nosso herói Dico para outro lugar.
- Hei! O que aconteceu? Onde estou? E o que você fez que comigo?

Com uma voz muito grave  e imponente ele responde:
- Aqui, onde tudo começou.
- Meu amigo do céu, que vozeirão você tem, hein? Já pensou em ser um dublador de filmes de Hollywood?
- Ah, você é incrível, Dico.

Dico então fala: 
- Meu amigo, na verdade o que você quer de mim? Eu sou apenas um cara que vive em um cidadezinha do interior. Trabalho, pago minhas contas, faço minhas boas ações. Bom... Bem que, na realidade, eu acho que estou devendo uma visita para um amigo, mas assim que der vou visitá-lo. Mas fora isso...

- Dico, Dico, você não se lembra mesmo de nada. Mesmo essa sua ignorância está me deixando nervoso. Você está vendo essa estátuas?

Dico então fala:
- Não vejo nada, a não ser a escuridão.

- Na realidade, Bugu, eu não sei a quanto tempo isso aconteceu e por que estou aqui. Mas percebo que você é muito poderoso. Então, por que precisa de mim? Sou apenas um cara do interior, tenho um emprego humilde em uma oficina mecânica, onde trabalho igual um filho de uma égua. Há única magia que consegui fazer até hoje, a de passar um mês com um mísero salário mínimo. Já viu o preço das coisas, o preço da carne? Não, né? É muito mais fácil levar uma vaca para o motel do que  fazer um churrasco. (piada sexista, trocar por outra coisa)

- Dico, realmente não lembra do que aconteceu mesmo. Você acha que tem quantos anos? Acha realmente que aquilo que vc vivia era mesmo sua vida? Sendo assim, não me resta outra saída a não ser lhe mostrar o que realmente és.

Então a temperatura começou a cair drásticamente. De tal forma que  começou a criar crostas de gelo por toda parte.

Dico sentiu a frieza em seus ossos, tanto que parecia que seu sangue iria congelar.

Dico então quase desmaiando fala para Bugu:

- O que vc está fazendo, caramba, que me matar congelado, é?

Bugu não fala nada e novamente com gesto de dedos aparece uma rocha em  formato de porta com uma maçaneta dourada.

Entao a voz grave falou:

- Aqui é onde tudo começou.


(comentário do editor e publicador desta postagem: o autor está me enviando pequenos fragmentos da história, as quais vou postando abaixo)

continuando...
Foi então que uma forte luz encheu aquele lugar tomado pela escuridão, ofuscando a visão de Dico, o qual ficou sem enxergar por algum tempo. Mas logo se recuperou e conseguiu ver onde estava. Era impressionando e assustador - um campo de Batalha onde muitos guerreiros pelejavam uma batalha sangrenta contra uma criatura colossal. Ela pegava os guerreiros e os devorava como se fossem petiscos. Perto da criatura havia muitos corpos mutilados pelo chão. Era possível ouvir sons de várias espadas golpeando a criatura, o cheiro de carne queimando, sangue...

Dico, vendo essa cena perturbadora, teve um flash de memória. Seu coração acelerou. Então ele vê em sua mente um pequeno vilarejo com vários camponeses e uma mulher, que eram importantes para ele.

Nesse momento a voz grave fala:

- Está lembrado da sua vida. Eu sei que todo começo não é fácil para ninguém, especialmente para você.


continuando...
Dico se levanta, vai em direção ao portal e fica observando aquela luta sem sentido. Então ele vê uma figura que lhe é familiar, uma mulher com uma criança em seus braços correndo para salvá-lo da criatura e da destruição.

Dico fala com uma voz carregada de ira para Bugu:

- Por que está me mostrando isso, Bugu? Isso se realmente seu nome for Bugu. Que lugar e esse? Quem é essa mulher? E que quando isso ocorreu?

Então a figura aparece ao lado de Dico e disse:
- Meu nome é Djin. O ano é 600 antes de Cristo. E aquela mulher é uma feiticeira. Ela foi sua mãe.




Autor Maicon
Editor NodesBR2020/2022

Postagens mais visitadas