Neo e o Arquiteto


Uma breve introdução.

O primeiro filme da trilogia Matrix foi lançado em 1999, ano no qual tenho certeza de que não o assisti. Digo isso porque não gostei desse filme quando o vi na prateleira da locadora de fitas VHS (Isso mesmo, o filme foi lançado ainda na época das fitas VHS, sendo o DVD lançado anos antes no japão. Mas aqui no Brasil o VHS ainda reinava soberano. E foi nesse formato que eu o aluguei pela primeira vez, e pelas próximas dezenas de vezes também). Os personagens na capa eram, para mim, muito bossais, logo o filme seria "trash" como ela. Então, por esse motivo, digo que não assiste no ano de seu laçamento.

Apesar disso, assim que o vi, cacete!, me apaixonei. Minha mente saltou de tanta euforia. Era um filme perfeito do início ao fim. E a cada vez que eu o reassistia, conseguia encontrar detalhes novos e espetaculares. Além do fato de que é necessário assisti-lo a mais de uma vez devido à sua complexa trama. Pois ninguém que eu conheça, incluindo eu mesmo nesse balaio, conseguiu entendê-lo logo de cara. Isso é impossível.

Eu mesmo ainda hoje consigo encontrar detalhes incríveis nas entranhas de sua trilogia. Digo isso porque achava que já havia entendi o filme muito bem. Mas aí, depois que anos se passaram, surge um detalhe desconfortável no diálogo entre Neo, o messias salvador da humanidade, e o Arquiteto - o criador da Matrix. Neo não um humano como os demais. Ele é apenas mais um dos elementos de controle da Matrix. E sua função é levar esperança aos humanos de Zion, povo salvo da Matrix e/ou últimos humanos que não nasceram conectados à Matrix.

Então, mano, isso me faz pensar: quais detalhes mais devo ter passado batido? Ou quais detalhes estariam escondidos de mentes simples como a minha? A resposta com certeza é: muitos. Muitos detalhes.


Vamos lá.
Abaixo você encontrará as falas de ambos os personagens num momento crucial da trilogia, as quais foram retiradas de uma legenda qualquer do filme mas adaptada por mim à dublagem brasileira, a qual foi feita ouvindo o áudio e editando no texto abaixo.

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Olá, Neo.

- Quem é você?

Eu sou o Arquiteto. Eu criei Matrix. Estava esperando você.
Você tem muitas perguntas, e, embora o processo tenha alterado sua consciência, continua irrevogavelmente humano: ergo algumas respostas você entenderá, outras não. Ao mesmo tempo, embora sua primeira pergunta pareça mais pertinente, perceberá, ou não, que é também a mais irrelevante.

- Por que eu estou aqui?

Sua vida é o total do salto de uma equação assimétrica inerente à programação de Matrix. Você é resultado de uma anomalia que, apesar dos meus esforços, não consegui eliminar do que seria a harmonia da precisão matemática. Mesmo permanecendo como um problema assiduamente evitado, não é inesperado e, assim, não além da medida de controle que trouxe você inapelavelmente aqui.

- Não respondeu à minha pergunta.

Isso mesmo. Interessante. Foi mais rápido do que os outros.
Matrix tem mais tempo do que imagina. Prefiro contar da emergência de uma anomalia básica à emergência da próxima. E no caso, esta é a sexta versão.

- Há somente duas explicações possíveis: ou ninguém me disse, ou ninguém sabe.

Precisamente.
Como deve estar sem dúvida percebendo, a anomalia é sistêmica, criando flutuações até mesmo nas mais simples equações.

- Escolha. O problema é a escolha.

A primeira Matrix que projetei era quase, naturalmente, perfeita, era uma obra de arte. Sem falhas, sublime. Um triunfo somente igualado ao seu monumental fracasso. A inevitabilidade do seu fim é aparente para mim agora, como consequência da imperfeição inerente a todos os seres humanos. Assim, eu reprojetei, com base na nossa história, para refletir mais acuradamente as qualidades grotescas da natureza humana. Entretanto, novamente me frustrei com o fracasso. Desde então compreendi que a resposta me iludiu, porque requeria uma mente menos inteligente ou talvez uma mente menos ligada aos parâmetros da perfeição. A resposta foi acidentalmente descoberta por uma programação intuitiva, inicialmente criada para investigar certos aspectos da mente humana. Se eu sou o pai da Matrix, ela, sem dúvida, seria a mãe.

- O Oráculo.

Por favor. Como ia dizendo, ela acidentalmente descobriu uma solução “onde” quase 99% de todos os humanos testados aceitaram o programa, enquanto lhes fosse dado uma escolha, mesmo se estivesse cientes dessa escolha em nível de inconsciência. Embora essa resposta funcionasse, era óbvio, ser fundamental falha, dessa forma criando um desvio de condição, uma anomalia sistêmica, contradição que se não corrigida ameaçaria o próprio sistema. Ergo, aqueles que recusaram o programa, embora em minoria, se não corrigidos, constituiriam uma probabilidade cada vez maior de desastre.

- Trata-se de Zion.

Você está aqui porque Zion está prestes a ser destruída, todos os seus habitantes eliminados e sua total existência erradicada.

(- Besteira. - Besteira.)

A negação é a mais previsível das respostas humanas, mas fique descansado, esta será a sexta vez que a destruiremos, e nos tornamos extremamente eficientes nisso.
A função do Escolhido é agora retornar à Fonte, permitindo uma disseminação temporária do código que você carrega, reinserindo o programa principal. Após o que você será solicitar a selecionar da Matrix 23 indivíduos, 16 mulheres e 7 homens, para reconstruir Zion. O fracasso em cumprir esse processo resultará numa falha cataclísmica do sistema, matando todos conectados à Matrix. O que além do conseguente extermínio de Zion, resultará obviamente na extinção de toda a raça humana.

- Você não deixará que aconteça. Precisa de seres humanos para sobreviver.

Há níveis de sobrevivência que estamos preparadas aceitar, entretanto a questão importante é se você está preparado ou não para aceitar a responsabilidade pela morte de cada ser humano neste mundo.
É interessante conhecer suas reações. Seus cinco antecessores foram, propositalmente, programados para partilhar um atributo em comum que deveria criar uma profunda ligação com o restante da sua espécie, facilitando a missão do Escolhido. Enquanto os outros partilhavam preocupação geral com o bem-estar dos outros humanos, a sua experiência é muito mais específica. Desavir, o amor. 

- Trinity.

A propósito, ela entrou na Matrix para sacrificar-se por sua vida.

- Não.

O que nos traz, por fim, ao momento da verdade “onde” a falha fundamental é basicamente expressa e a anomalia é revelada como princípio e fim.
Existem duas portas. A porta à sua direita leva à Fonte e à salvação de Zion. A porta à sua esquerda o leva de volta à Matrix, à ela e ao fim da sua espécie. Como você já disse, o problema é a escolha. Mas já sabemos o que você vai fazer, não é? Já posso ver a reação em cadeia, as reações químicas que criam uma emoção projetada especificamente para dominar a lógica e a razão, uma emoção que o faz recusar uma realidade simples e óbvia: ela vai morrer e não há nada que você possa fazer para impedir isso.
Esperança. É quintessência da ilusão humana, simultaneamente a fonte de sua maior força e de sua maior fraqueza.

- Para você, seria melhor não nos vermos de novo.

Não nos veremos.


Vídeos referentes ao filme em questão, encontrados no YouTube mas não upados por mim, e sim por outra pessoa.

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