O PIOR DOS MONSTROS


A pessoa ali sendo entrevistada era uma criança, uma menina de mais ou menos oito anos. Ou era o que parecia ser. Pois, se você a olhasse mais de perto, ela era uma velha horrível. Isso ficava claro ao olhar o monte de rugas e pregas antigas na cara daquela criança feia.

Ela era uma confusão de informações que seu cérebro não conseguiria compreender jamais. De longe era uma doce bebê de oitos anos. Usava vestido longo típico de criancinhas. Mas que de perto virava um vestidinho sujo de uma mulher velha que nunca lava suas roupas. Era uma menininha velha e suja, com cara de nojo permanente. Causava náusea ao chegar perto.

Seu rosto era o pior de tudo. Velho. Muito velho. Enrugado. Aquilo não poderia ser uma criança. E ao mesmo tempo era.

Ela começou dizendo que havia matados muitas pessoas. Não lembrava mais quantas. Mas que foi muitas. Falava isso com naturalidade. Como se falasse de algo bem casual como passear no parque com uma amiga. Chegava até a sorrir do estava dizendo, como se lhe causasse certo prazer. E devia causar. Ela contou com detalhes as várias mortes que havia provocado. Mas logo ficou mais séria ao dizer que uma das pessoas, apenas uma delas, um garotinho, tinha conseguido evitar morrer. E ele estava no quintal. Vivo.

Isso a deixava com nojo.

Logo fui ao local ver a coitadinha da pessoa que havia penado na mão daquela coisa menina velha. Então fui ao quintal da casa. Lá encontrei uma cela. Havia uma grade por onde se podia olhar dentro. Olhei com muita pena. Mas o que vi logo me assustou. E muito.

Não havia uma criança ali. Havia outra coisa. Uma coisa grande e monstruosa. Ele estava no canto da cela. Sentado no chão. De cabeça baixa. Parecia descansar. Parecia adormecido. Mas assim que pensei em sair de perto, ele me ouviu. Devo ter feito algum som de medo. Sei lá. Mas ele ouviu e se ergueu lentamente, com certo drama de filme de terror.

Porra!!!

Cacete!!!

Eu quase me caguei de medo. 

Não tenho como descrevê-lo sem fazer uma certa analogia com coisas que já vi na vida. Então imagine o maior fisiculturista que você já tenha visto. O maior de todos. Agora o imagine muito sujo e no escuro à meia luz. Imagine também o Jason do filme sexta-feira 13, quando ele sai do lago todo molhado e podre. Se conseguiu imaginar, então pode ser que você consiga entender minha quase “cagança” de medo. Mas não era bem isso que eu vi. Era pior e muito maior. Pois em sua mão direita havia uma velha e enorme coluna de concreto em duas partes, unidas ao meio com um grosso cadeado. Ele parecia querer tirar sua mão daquele lugar mas ao mesmo tempo gostava dela ali. Talvez estivesse machucando-o. Na outra havia um tipo de bastão negro de basebol cheio de pregos. Ele o segurava com muita força, com se quisesse acerta qualquer coisa a qualquer momento. Vestia um tipo de macacão parecido com o Jason, só que muito sujo e podre. Em sua cabeça havia um saco de pano de estopa, daqueles que são usam para transportar batatas.

Tudo estava medonho. Mas iria ficar pior. Pois ele depois de se erguer veio na minha direção. Eu estava na porta de entrada. Recuei e tentei sair dali o mais rápido que pude. Corri para rua. Onde aguardei que ele aparecesse. E logo ele fez isso. Surgiu à porta enorme e terrível. Parecia me ignorar de propósito. Sabia que eu estava deveras assustado. Meu coração estava na goela. Batia alto.

Ele desceu as escadas da porta da entrada. Seguiu um caminho diferente de onde eu estava. Mas antes de sumir, ele disse:

- Da próxima vez vamos conversar.

Eu apenas aceitei o que foi dito. E ao mesmo tempo entendi que ele não era mal, ruim ou mesmo monstruoso. Era apenas um menino que parecia mal. Ele precisou ficar assim, medonho, para se defender. E eu fiquei com medo. Todos ficaram com medo dele. Era a pior coisa que já tinha visto na vida. Nada no mundo havia me assustado tanto. O Jason era fichinha para ele.

Mas era só o que ele queria parecer.

Afinal de contas, ele era uma criança assustada.

O monstro mesmo era a velha menina com aparência de bebê.

...

Aí nesse ponto eu acordei.

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